ETERNAMENTE EMBRIAGADO

1968 + 50 + 5 = 2023

São Paulo na avenida São João, a música pop ou os movimentos de incerta desordem na França, ainda debaixo do nariz do Général De Gaulle, não provocavam nenhum incômodo por aqui na paulicéia. Os The Beatles, Iê, Iê, Iê, ou Quatro Garotos ao Vento, eram gentis e aparentemente prontos para uso e abuso das garotas de uniforme escolar britânico e com tiara e soquetes brancos. Do nosso lado, a monarquia do Roberto e seus amigos de cinto largo na vertical e uma boca de sino na longitudinal nada ofensivos e totalmente incompatíveis com a nudez em preto e branco de John Lennon ao lado da questionável beleza nipônica Sra. Ono. Estas imagens me fascinaram pelo olhar e a imaginação nada londrina mas definitivamente universal. A maçã do label da casa Apple, ora inteira ora cortada, não se assemelhava a nada já visto e não tinha o espírito medieval tal como sugerido e atribuído à estranhos objetos cultuados tal como o brucutu esguichador de água do fusca montado sobre anéis.
Eu estava perdido na avenida São João muito mais coerente e charmosa na voz rouca do mestre Adoniran quando Wanderléa e Ronnie Von me confundiam a cabeça.

Revolution Number Nine was coming at the horizon my friend.
E fui numa loja de discos catar o recém chegado de um disco lançado no Brasil “sem capa”.. foi assim interpretado pelo vendedor numa loja da avenida São João.
Pensei e falei: “toca às primeiras faixas deste lado 2”… e ele respondeu: vai levar?
Silêncio mortal...
A agulha foi saltitando de faixa em faixa e o rapaz fez uma cara de dúvida com espanto e perguntou se podia guardar com a seguinte observação “eu não daria três centavos para esta porcaria”... levei o disco com a felicidade de um adolescente e guardei a pérola do vendedor por mais de meio século..
Continuo totalmente embriagado por esta magistral obra e hoje tenho um enorme acervo em múltiplas edições que me seduzem como se fosse um primeiro amor de adolscente.

Sami Douek em 30 de junho de 2023, semana do lançamento da Caixa Acústica C22B2

English version:

ETERNALLY DRUNKEN

São Paulo on Avenida São João, pop music or movements of uncertain disorder in France, still under the nose of Général De Gaulle, did not cause any discomfort here in paulicéia. The Beatles, Iê, Iê, Iê, or Quatro Garotos ao Vento, were gentle and seemingly ready for use and abuse from girls in British school uniforms with white headbands and sockets. On our side, the monarchy of Roberto and his friends with wide belts vertically and bell bottoms longitudinally are not at all offensive and totally incompatible with the black and white nudity of John Lennon next to the questionable Japanese beauty Mrs. Ono. These images fascinated me with their not London look and imagination but definitely universal. The apple on the label of the Apple house, sometimes whole or cut, did not resemble anything seen before and did not have the medieval spirit as suggested and attributed to strange cult objects such as the water-squirting brucutu of the Beetle mounted on rings.
I was lost on Avenida São João, much more coherent and charming in the hoarse voice of master Adoniran when Wanderléa and Ronnie Von confused my head.
Revolution Number Nine was coming to the horizon my friend.
And I went to a record store to pick up the newly arrived record from a record released in Brazil “without a cover”.
I thought and said: “play the first tracks on this side 2”… and he replied: will you take it?
Dead silence...
The needle skipped from track to track and the young man made an astonished, doubtful face and asked if he could keep it with the following remark “I wouldn't pay three cents for this rubbish”... I took the record with the happiness of a teenager and I kept the seller's pearl for more than half a century..
I remain totally intoxicated by this masterful work and today I have a huge collection in multiple editions that seduce me as if it were a teenager's first love.